Os adultos têm de perceber tudo até à exaustão…e depois não percebem nada e perdem-se nesta roda de perguntas e respostas. Então respondem aos filhos “porque sim” e “porque não”, porque já não há mais espaço para pensar. Gastaram tudo consigo.
As crianças também questionam, mas ao mesmo tempo são mais aceitantes. Parece que lá dentro sabem que há coisas que nem vale a pena questionar. Filosofar é questionarmo-nos sobre tudo e questionar é crescer. Mas quando questionamos demais metemos os pés pelas mãos e paramos de crescer, no mau sentido, não porque voltamos a ser crianças, mas sim porque nos transformamos cada vez mais em adultos cheios de neuroses e com macaquinhos no sótão.
Nos últimos tempos tenho percecionado que questionarmo-nos demasiado pode fazer aumentar a dúvida e a confusão, ou seja, pode fazer mal à saúde, numa altura que precisamos de confiança e de calma.
Talvez tenhamos de saber quando questionar, saber quando parar, saber que nem tudo tem de ser compreendido, para sermos um bocadinho mais felizes. Só isso. Saber tudo é meter o dedo na ferida e precisamos de perceber que pôr o dedo na ferida é como usar uma espécie de nitrato de prata a queimar a carne viva, que permite a regeneração, mas dói muito… mas também pode ser como abrir uma caixa de Pandora ou, seguindo o mesmo raciocínio, pôr o dedo na ferida, só que quando o dedo não está treinado para tal, pode levar a uma péssima reação. Podemos entrar em choque e até morrer, porque piorámos a infeção.
Temos de aprender a abrir mão da vontade de saber todos os porquês e o porque não pode ser o que nos salva, o que nos permite viver, o que permite cuidar do nosso coração.
Há quem possa dizer que estou a transformar os adultos em avestruzes, mas é precisamente o contrário. Quero que ponham a cabeça de fora, que olhem para o mundo com entusiasmo, que ainda se deslumbrem com as pequenas coisas, mas que se saibam recolher e proteger, não dissecando a vida com uma ansiedade devoradora, que não vai parar de aumentar nunca, porque o que procuram no passado, que é onde achamos que estão as respostas a todas as coisas, até está bem arrumado e com isto só o vamos desarrumar. Isto levará a uma frustração sem fim quando perceberem que as causas nem sempre explicam os fins e que temos de seguir em frente porque a terra não parará de rodar.